Saúde

Importância do ómega 3 na função cognitiva

Cada vez vivemos mais anos, pelo que a população idosa aumenta cada vez mais e, consequentemente, a prevalência do comprometimento cognitivo está a aumentar no mundo inteiro.

De modo a contrariar esta tendência, existe um interesse crescente nos fatores de risco modificáveis, como a adesão a padrões alimentares saudáveis. A procura de alimentos e nutrientes capazes de melhorar esta condição levou à investigação dos ácidos gordos polinsaturados n-3 de cadeia longa, também conhecidos por ómega 3 [docosahexaenóico (DHA), ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido alfa-linolénico (ALA)]. Contudo, o ómega 3 é um ácido gordo essencial, ou seja, não é produzido pelo nosso corpo, pelo que tem de ser obtido através da dieta.

De facto, os estudos apontam para que o ómega 3 na dieta influencie positivamente a cognição, tendo um papel protetor contra o declínio cognitivo na generalidade da população envelhecida, e estando associado a uma melhoria na cognição global e de vários domínios cognitivos, como a memória visual e a função executiva. Uma maior adesão à dieta Mediterrânea, onde o ómega 3 esteja bem presente, também tem sido associada a um melhor desempenho cognitivo e a um menor declínio cognitivo. Além disso, quanto mais altos os níveis de ómega 3 no sangue circulante (como resultado de altos níveis de ómega 3 na dieta), melhores os resultados cognitivos no envelhecimento da população. De igual forma, parece haver benefícios dos ácidos gordos ómega-3 nos estágios iniciais da doença de Alzheimer, quando o comprometimento funcional cerebral ainda é leve.

Relativamente a fontes alimentares ricas em ómega 3, destacam-se as sementes de linhaça e de chia, contendo um teor de 2,3 g e 1,8 g por colher de sopa, respetivamente. Outros alimentos com valores interessantes deste nutriente são o pescado (exemplos por 100 g: salmão: 2,6 g; sardinha: 1,6 g, pescada: 0,6 g, solha 0,2 g), as nozes (por 20 g: 1,8 g) e alguns óleos (exemplos por colher de sopa: óleo de linhaça: 5,3 g, óleo de soja: 1,9, óleo de milho: 1,2 g, óleo de noz: 1 g; óleo de colza: 0,9 g).

No que diz respeito à suplementação em ómega 3, alguns estudos mostram resultados positivos em um ou mais domínios da função cognitiva (memória de trabalho, função executiva, memória verbal, memória de curto prazo, velocidade percetiva, etc.). Não obstante, aspetos como o período de duração, status cognitivo basal do indivíduo, dosagem da administração de ómega 3 e presença de outros fatores conduzem a diferentes resultados. Além disso, a suplementação com DHA em indivíduos saudáveis ​​com declínio cognitivo relacionado com a idade melhora significativamente as funções de aprendizagem e a memória episódica. Também os estudos onde se testou a suplementação com DHA + EPA corroboraram os resultados positivos da suplementação de ómega 3 na cognição, aumentando a evidência de que estes suplementos podem ser usados ​​como agentes nutricionais neuroprotetores. Os mecanismos associados aos efeitos positivos do ómega 3 na cognição são os seguintes:

  1. Melhoria dos níveis do fator neurotrófico derivado do cérebro.
  2. Redução do ácido araquidónico e disponibilidade dos seus metabolitos nos compartimentos cerebrais.
  3. Aumento das defesas antioxidantes.
  4. Aumento da concentração de fosfatidilserina no cérebro.
  5. Síntese da neuroprotectina D1, um metabolito do DHA que parece ter múltiplas funções neuroprotetoras, como a regulação positiva de mediadores anti-apoptóticos e a regulação negativa de mediadores pró-apoptóticos que modulam a morte celular.
  6. Promoção da neurogénese e melhoria da fluidez nas membranas sinápticas.
  7. Aumento do transporte de glicose no cérebro.
  8. Melhoria do acoplamento da proteína G envolvida nas vias de transdução de sinal, cuja deficiência está associada a défices cognitivos.

Assim, um bom aporte de ómega 3 pode ter um efeito positivo na função cognitiva e ser uma ferramenta preventiva ou terapêutica para o declínio cognitivo em idosos ou adultos mais velhos.

 

 

Referências bibliográficas

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